segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O Tempo e a Vida -Dr. Alexandre Hamam. Talvez, uma das coisas que mais nos perturba no dia-a-dia seja nossa relação com o tempo. Passado, presente e futuro estão sempre nos rondando, invadindo nossos pensamentos sem nossa autorização, confundindo nossos sentimentos e consumindo boa parte da energia que temos para viver. Entretanto, o que é o passado senão vagas lembranças ou memórias perdidas em alguns neurônios cerebrais ? O que é o futuro senão o produto de nossa imaginação, desejo, receio ou esperança ? Não conseguimos mudar o passado, mas podemos mudar as cores das etiquetas sentimentais com as quais rotulamos os fatos. Não mudaremos o futuro, por mais programados que sejamos, pois, jamais, em tempo algum, teremos o controle total e absoluto de todos os parâmetros da vida e do destino. Sendo assim, podemos ficar com a parte boa do passado, aquela que nos traz agradáveis lembranças. Podemos buscar nas gavetas da memória os fatos guardados e embalados com as etiquetas mais bonitas, mas não podemos repeti-los em nosso tempo. Devemos, pois nos sentir agraciados pelo simples fato de ter tido a oportunidade de, um dia, sentir, presenciar, ver, ouvir, cheirar, tocar, perceber, saborear algo que, aquele momento, foi algo infinito enquanto existiu. A máquina do tempo que nos levaria ao passado não passa de uma ilusão de quem não consegue enxergar o passado como algo que passou. Da mesma forma, fazer planos, criar expectativas demasiadas é querer dominar o tempo. O futuro nunca chegará, pois se, de fato, nossas expectativas vierem a se concretizar elas não pertencerão mais ao futuro, mas sim ao presente que virá. Apressar o futuro significa não entender o tempo. Ter consciência do passado que não voltará e do futuro que nunca chegará é o primeiro passo para a libertação do pensamento. É ser simplesmente o que se é, sem excesso e sem falta. É estar grato por estar vivo, sabendo de toda a finitude da vida. É aceitar o que cada momento tem a oferecer, não como se fosse último, mas o primeiro que se renova a cada dia, em cada oportunidade. “Observando profundamente a vida como ela é, aqui e agora, é que permanecemos equilibrados e livres. (Bhaddekaratta Sutta)” Assim como a vida, o tempo é comum a todas as pessoas, mas cada um tem a sua. Uma vez que não é possível compartilhar a vida, também não se pode compartilhar o tempo, exceto por pequenos fragmentos. Podemos viver juntos, mas não viver a mesma vida. Podemos compartilhar momentos, mas não o tempo todo. Entender a relação da vida com o tempo é mais uma forma de nos libertar das expectativas com relação às pessoas que nos são próximas. Liberdade significa ausência do sentimento de aprisionamento. Libertar-se do tempo e suas algemas é um caminho para a felicidade. Libertar a quem se ama significa dar plenos poderes para um caminho conjunto, de mãos dadas, rumo à eternidade.

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